O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Fernando Coura, é o responsável pela única feira internacional de grande porte realizada em Belo Horizonte, a Exposibram, que acontece de hoje (14
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Fernando Coura, é o responsável pela única feira internacional de grande porte realizada em Belo Horizonte, a Exposibram, que acontece de hoje (14) até a próxima quinta-feira, no Expominas. Trata-se de uma das maiores feiras e congresso mundiais do setor da mineração. Nessa entrevista, Coura fala do momento difícil que atravessa o setor mineral e de oportunidades. “Como empresário, estou investindo porque depois da crise vem a retomada”, afirma. “Sou um otimista. Não poderia ser diferente, já que torço pelo América”, brinca.
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Qual sua avaliação desse momento difícil para a indústria mineral?
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É um momento especial. De fato, é um momento difícil. Mas faz parte dos ciclos que são característicos do mercado de commodities. Temos que encarar com naturalidade tanto a baixa quanto a alta da demanda e dos preços.
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Mas este ciclo é diferente. Tivemos a China como um fator de desequilíbrio muito forte.
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A China apareceu em determinado momento consumindo de tudo: ferro, aço, gusa, ferro-ligas, níquel, cobre, zinco, fosfatos, soja e todos os bens primários. Aí nos tivemos a escalada das cotações e uma avalanche de novos entrantes na mineração. As pesquisas e os investimentos aumentaram enormemente para suportar o aumento de demanda. Quando aconteceu o reequilíbrio de oferta e demanda, os preços passaram a cair. Agora, voltamos a estabilizar. Depois, virá nova retomada.
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O clima na Exposibram não será de pessimismo?
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O que vamos mostrar nessa Exposibram é que a mineração está presente, que ela é parte fundamental da economia brasileira. Juntamente com o agronegócio, a mineração é a formadora do saldo comercial. Nos últimos oito anos, realizamos US$ 280 bilhões na balança comercial. É uma reserva brasileira. Vamos mostrar que as empresas estão ativas, estão investindo em tecnologia, melhorando seus equipamentos e buscando alternativas que visam adequar seus custos de produção à nova realidade.
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Qual é essa nova realidade?
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Não existe mais minério de ferro de US$ 190 a tonelada. Agora é US$ 50. Não existe mais ouro de US$ 2 mil a onça. Agora é US$ 1.100. Não existe mais níquel de US$ 50 mil a tonelada. Agora é US$ 9 mil.
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Essa Exposibram terá a mesma amplitude das anteriores?
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Mais até. Estamos trazendo atores internacionais, gente do Banco Mundial, consultores internacionais, os principais presidentes das empresas. Traremos agentes políticos para o debate e embaixadores de diversos países. São 27 países representados na Exposibram. É preciso ressaltar que esse é o único evento internacional que acontece em Belo Horizonte. As feiras de automóveis, têxtil, de máquinas, de alimentos, é tudo em São Paulo.
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O tema inovação foi escolhido por conta dessa nova realidade de preços?
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Também. Esse é o tema do congresso que acontece paralelamente à feira. Mas não é só inovação tecnológica. É também inovação na gestão, na governança, na relação com os stakeholders, principalmente nas comunidades onde a mineração atua. Porque nós acreditamos que a mineração só é possível com a licença social, e não só ambiental. Se uma sociedade não quiser uma mineração ela não deve acontecer. Nós temos que ser parceiros dos municípios.
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Inovação ambiental também?
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Trabalhamos para disseminar um trinômio. Não existirá mineração se não tivermos sustentabilidade ambiental, competitividade e função social.
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Onde está a inovação na operação das minas?
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Estamos fazendo a segunda safra do minério. Ali está a inovação. Estamos aproveitando barragens de rejeito, tirando minério de pilhas de estéreo, usando itabiritos pobres. Em 2005 falavam que as operações em Itabira estavam fechando. Com as novas tecnologias, tem mais 75 anos de vida. Estamos reduzindo o consumo de energia. Um caminhão que gastava 2 litros por tonelada de minério, hoje gasta 0,5. Nossas ferrovias são das mais eficientes. Nós recuperamos o ouro de mais baixo teor do mundo, de meia grama por tonelada, em Paracatu. Nós temos processos de produção de ouro por sequestro bacteriológico, por bactérias que comem o ouro. É isso que queremos mostrar na Exposibram.
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E na área ambiental?
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Quando eu me formei, em 1976, na Escola de Mina de Ouro Preto, a recuperação de minério nas minas era de 15% e, hoje, é de 85%. A recirculação de água era zero e, hoje, de mais de 90%. Nossos maiores caminhões carregavam 30 toneladas e, hoje, são de 300 toneladas. Depois veio o processo da sinterização, da pelotização, da concentração, do reaproveitamento. E essa eficiência significa menos impacto no meio ambiente.
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Essas tecnologias são desenvolvidas no Brasil?
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Nós somos o único setor industrial onde todas as tecnologias de aproveitamento dos bens minerais são desenvolvidas no Brasil e por brasileiros. Temos os melhores centros de excelência, não só das empresas, mas também a Fundação Gorceix; o Cetec, que hoje é Senai; o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem); os centros de tecnologia da UFMG, da USP.
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Diante da crise, você continua otimista com a mineração?
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Mas é claro que sou otimista. Sou tão otimista que torço para o América. Como posso deixar de ser otimista? No Brasil, precisamos de estradas, ferrovias, portos, hospitais, oito milhões de moradias, escolas, aeroportos e saneamento básico. Isso tudo é feito com bens minerais. Com ferro, cimento, areia, brita, alumínio. O Brasil tem grande potencial, tem mais de 200 milhões de habitantes, e hoje nossos percentuais de consumo de bens minerais são baixíssimos.
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Tem também o potencial de fertilizantes na agricultura, não é mesmo?
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Nessa área, nossa deficiência é de impressionar. Estamos importando 90% do potássio que consumimos e 50% do fósforo. Temos boas reservas, inclusive em Minas, mas aí vem os entraves burocráticos, as licenças ambientais, as questões tributárias. Nós somos o celeiro do mundo, principalmente por conta do cerrado. Mas, para produzir no cerrado é preciso corrigir a acidez do solo com calcário e depois conseguir produtividade com nitrogênio, potássio e fósforo. Olha que potencial incrível.
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Voltando à crise, qual o tamanho do problema da desaceleração da China?
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Dizem que a China neste ano só vai crescer 6% ou 7%. Mas é 7% sobre uma base muito maior. É muito mais do que quando crescia 14% há 10 anos.
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Onde está o problema, então?
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Temos de fato uma crise no setor siderúrgico, um excedente de 500 milhões de toneladas no mundo, que afeta o minério de ferro. Temos uma energia elétrica terrível. Nosso custo é dos mais altos do mundo. Estamos parando de produzir alumínio no Brasil por conta do preço da energia. É uma coisa que me doí. Minas já parou de produzir alumínio e o Brasil todo está parando. Quem é formado em Ouro Preto, quem viu um Américo René Gianetti idealizar uma Alcan, uma Eletroquímica Brasileira, quem viu o investimento da Votorantim… Não é possível que não possamos ter uma política para geração de energia na Amazônia para agregar valor a bauxita e viabilizar a produção de alumínio. Estamos construindo uma Belo Monte, no Pará, para iluminar as gôndolas dos supermercados em São Paulo, produzidas com alumínio importado, que foi fabricado com bauxita que exportamos do Brasil.
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A solução seria subsídio?
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Não tem nenhum pedido da mineração brasileira para subsídio. Nós temos capital financeiro, tecnológico e humano. O que queremos é que o governo nos deixe trabalhar. E é isso que vamos dizer na Exposibram.
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O Brasil corre risco de perder mercado internacional?
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De certa forma. Não houve aumento de produção de minério de ferro no Brasil nos últimos anos. Quem cresceu foi a Austrália. A China também, mas lá o custo é altíssimo, o minério é pobre, com menos de 30% de teor, muitos contaminantes e sílica alta. Mas a Austrália tem avançado. No ano passado, fez 260 milhões de toneladas a mais que a gente.
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A desvalorização cambial ajuda neste momento, não?
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Sem dúvida que valorização do dólar ajuda. Nós somos exportadores.
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Você acredita que a tonelada do minério pode chegar na casa dos US$ 30, como prevêem os mais pessimistas?
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Veja bem, a cotação é um preço de referência para a tonelada entregue num porto no norte da China. Dessa maneira, US$ 30 mal paga a logística. Com a tonelada a US$ 30, acabou a mineração em Minas. Além da operação na mina, tem frete marítimo, porto, ferrovia, e para as pequenas, um braço rodoviário. Mas, em todo o mundo, não existe quem consiga produzir a US$ 30. O que aconteceu com os preços foi uma acomodação, que agora deu uma estabilizada pouco abaixo dos US$ 60.
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Os projetos de baixo teor estão ameaçados?
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Os projetos de baixo teor da Vale estão sendo inaugurados. O da Anglo American já foi inaugurado. São todos viáveis. O pessoal quer comparar custo de operação da Anglo American com outros para mostrar que é inviável, mas eles ainda estão em ramp up (início de operação). Além disso, eles tem um diferencial incrível que é um minério de excepcional teor e baixos contaminantes, que é vendido com prêmio. Os projetos estão garantidos.
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Fonte: Hoje em dia
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