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Salário de técnico é maior que o de graduado em diversas áreas

31 de agosto de 2016

Um técnico em mineração tem um salário médio 119% maior que o de um biomédico. Também recebe 117% a mais que um farmacêutico e 61% além do que ganha um cirurgião-dentista no Brasil

Um técnico em mineração tem um salário médio 119% maior que o de um biomédico. Também recebe 117% a mais que um farmacêutico e 61% além do que ganha um cirurgião-dentista com carteira assinada no Brasil.
 
A ocupação foi a que mais remunerou um profissional de nível técnico da indústria nacional em 2014, com R$ 7.834 -valor já corrigido pela inflação. O dado é o mais atual da Rais (base sobre empregados registrados), do Ministério do Trabalho.
 
O segundo maior salário de nível técnico está no segmento de petróleo e gás. Um profissional da área ganha, em média, R$ 7.707 -120% a mais que psicólogos, por exemplo.
 
A valorização das carreiras técnicas tem quebrado um paradigma, afirma Ricardo Haag, diretor da consultoria Page Personnel. "A modalidade já foi vista apenas como um plano B à graduação. Hoje, é possível ser bem sucedido só com o diploma de educação profissional."
Engana-se quem pensa que um técnico só aperta parafusos, diz Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai. "Ele tem mais noção de gestão e tem sido reconhecido no mercado porque lida com soluções que não admitem erro."
 
Lucilia do Prado Silva, 36, técnica em mineração da Vale, faz o controle da exploração da lavra de manganês em Parauapebas (PA). Um erro de cálculo pode impactar a produção da empresa. "Estudo muito para encontrar a melhor área na mina", diz.
 
Os salários atrativos seguem um mapa balizado pela escassez de profissionais qualificados. No Norte e no Nordeste, cargos em mineração e pesquisa e desenvolvimento são os mais bem pagos. No Amazonas, um técnico experiente em mineração, por exemplo, ganha R$ 20 mil -um pesquisador com doutorado recebe R$ 13,8 mil.
 
"Estão embutidos aí os riscos e a insalubridade de se trabalhar no meio da floresta", afirma Marcelo Tunes, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração). Nas regiões Sul e Sudeste, são os técnicos da indústria pesada os mais bem remunerados.
 
O mecânico Valdir da Silva, 48, ganha R$ 6.000 para fabricar ferramentas usadas no setor automotivo em uma indústria do Grande ABC. Para ele, a função exige mais que atualização. "Além de dominar a tecnologia, que muda muito, você tem que ter habilidade. Quando o homem perder a habilidade, pode ter certeza que as máquinas controlarão tudo", diz.
 
E é essa especialidade específica adquirida durante a formação que tem refletido no aumento da renda dos profissionais técnicos, concluiu a economista Roberta Nastari, em pesquisa na FGV-SP.
 
Ela cruzou dados de 67,2% dos concluintes do ensino médio que fizeram as provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2004 a 2006 e que conseguiram um emprego formal logo à frente, entre os anos de 2009 e 2012.
 
Isolou fatores sociais, econômicos, geográficos e educacionais dos pesquisados, como o desempenho na prova nacional. E veio o resultado. "Ter uma especialidade fez com que o ganho dos jovens com técnico fosse 13% mais alto em relação aos que não têm essa formação."
 
Segundo Haag, da Page Personnel, o profissional precisa fazer uma leitura estratégica do mercado antes de optar pelo ensino técnico. "Poucas pessoas têm essa clareza. Dependendo do segmento escolhido, a formação superior é a mais adequada."
 
Para Lucchesi, do Senai, o país peca ao privilegiar a universidade como um caminho único de formação. Hoje, apenas 11% dos jovens brasileiros estão em algum curso da educação profissional. "E só 17% deles vão para a universidade. O ensino médio precisa mudar para garantir uma profissão aos 83% que estão fora da vida acadêmica."
Folha de S. Paulo
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