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A mineração dentro de áreas urbanas é possível com base na interação empreendimento – comunidade circunvizinha

28 de setembro de 2017

Entrevista | Luiz Eulálio de Moraesrn

Luiz Eulálio de Moraes Terra: Engenheiro civil (1972) é diretor-presidente da Embu S.A, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRAM, diretor titular do DECONCIC – Departamento da Indústria de Construção da FIESP, diretor da ANEPAC – Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para a Construção Civil e diretor do SINDIPEDRAS – Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada do Estado de São Paulo.
 
Jornal Indústria da Mineração: A EMBU Engenharia tem como uma das características marcantes o fato de desenvolver operações de mina em áreas urbanas. Quais os desafios desse tipo de trabalho?
 
A mineração dentro de áreas urbanas – ou com urbanização próxima – pode ser feita quando a sua condução é de tal forma que vislumbra-se passar praticamente despercebida pelos que estão no seu entorno. É possível sustentá-la com base nos chamados pilares básicos e condicionadores de sua própria sobrevivência, que entendemos ser: a Engenharia de planejamento das operações e de execução dos projetos de lavra, as ferramentas tecnológicas disponíveis e aplicadas e, principalmente, a interação empreendimento-comunidade circunvizinha, mais comumente vista como a licença social, que não é dada por órgãos oficiais de licenciamento, mas sim pela própria comunidade. Para tanto é preciso planejar uma área de operações com uma distância mínima do núcleo urbano – já considerando que a dinâmica de crescimento da cidade nem sempre obedece ao critério do planejamento da expansão urbana, fato que exige mais do que a disponibilidade de recursos e investimentos, mas sobretudo o conhecimento da jazida e a sensibilidade de que se ter um conforto e segurança para a execução das operações unitárias de lavra (a perfuração, o desmonte, o carregamento e transporte) é de vital importância. Depois, é preciso estar up to date com a tecnologia, utilizando processos e equipamentos que minimizem a percepção das atividades de mineração, utilizando-se o que há de melhor nas mesmas operações unitárias citadas e, por fim, aplicar os princípios de transparência na gestão do empreendimento no limite da convicção de que o conforto buscado na sua operação também seja aquele perceptível pelo meio urbano.
 
Jornal Indústria da Mineração: Nesses mais de 50 anos de atuação da empresa, de que forma evoluíram as ações desenvolvidas com as comunidades afetadas pelas operações da Embu? Que tipo de trabalho é realizado nesse sentido?
 
A facilidade de contato com os gestores da empresa e a pronta-resposta destes às demandas da comunidade parece-nos ser as variáveis que devem ser perseguidas e aprimoradas nas relações com a comunidade. A Embu S.A., por filosofia de seus sócios-contraladores, sempre buscou evoluir nessas relações. O homem da comunidade vizinha é visto como o candidato preferencial a ocupar um posto na empresa e, por conseqüência, sua família, seus amigos, o comerciante que o atende, os prestadores de serviços, como um efeito em cadeia, também passam a estabelecer uma relação natural conosco. Passamos a integrar e participar, todos, de um mesmo processo econômico pelo qual somos responsáveis. Dele dependemos e a partir dele estabelecemos essa relação de interdependência, que é também alimentada pelas ações de natureza sócio-ambientais-educacionais que são desenvolvidas pelo IES – Instituto Ambiental de Sustentabilidade (www.institutoembu.com.br) que, com orçamento próprio, busca atender, no limite de nossas possibilidades, as necessidades mais prementes dessa comunidade. Participamos, dessa forma, de tudo o que é possível utilizando esses recursos, mas nosso enfoque é ainda uma aposta na educação do homem, lato senso.
 
Jornal Indústria da Mineração: Operar com rochas em centros urbanos exige uma série de tecnologias para garantir o cumprimento das condicionantes ambientais. Pode nos explicar um pouco sobre o que é feito atualmente pela Embu para atender à legislação vigente?
 
A Embu sempre pensou nos seus empreendimentos como operações longevas. Nossa mina mais antiga tem mais de cinquenta anos de operação, em Embu das Artes, e almejamos mais cinco décadas de vida, ao menos, nos nossos projetos de longo prazo. Para chegar lá é preciso, primeiramente, planejar o futuro e, por isso, planejamos e imobilizamos áreas no seu entorno, investimos para manter a tal “distância de conforto” a que me referi anteriormente. Depois, temos de utilizar as novas tecnologias para nos ajustarmos aos condicionantes estabelecidos pela legislação ambiental vigente e que, como é presumível, mais exigente se tornará no futuro. Exemplo claro dessa situação – mas não único – é a operação mais injustamente estigmatizada de um empreendimento de mineração em meio urbano, o desmonte de rochas com explosivos. Nas nossas operações na Pedreira Embu, mais próximas do núcleo urbano, utilizamos os circuitos e dispositivos eletrônicos de detonação de explosivos, porque é a partir deles que temos um, digamos, ajuste fino da operação. Queremos com isso minimizar vibração, sobrepressão e eliminar quaisquer riscos de lançamentos de fragmentos fora da área operacional, razão pela qual não economizamos no procedimento. Utilizamos o que há de melhor em explosivos, acessórios e monitoramento, mas também primamos pelo rigor dos procedimentos e na capacitação dos profissionais que são responsáveis pela operação. Mas não é só. Cuidamos igualmente do potencial de geração de pó, do ruído gerado por máquinas e equipamentos em horários que a comunidade descansa, da água, da limpeza e estudamos rotas alternativas de escoamento da produção para que, no futuro, não sejam gerados novos óbices ao empreendimento.
 
Jornal Indústria da Mineração: Qual a importância dos “cinturões verdes” nas operações desenvolvidas pela Embu?
 
Eles são indispensáveis à operação do empreendimento. É uma barreira física natural, essencial, aceita por todos e que traz inúmeros benefícios a partir do isolamento visual e sonoro do empreendimento, é eficaz na contenção do material particulado em suspensão gerado pela circulação intensa de equipamentos pesados – que eventualmente não seja contido pelos processos de umectação, tem função complementar de segurança para a área operacional e, sobretudo, como efeito colateral – por assim dizer, não deixa de ser uma contrapartida de área florestada que o empreendimento traz para a comunidade. Em todas as unidades da Embu, na região metropolitana de São Paulo, temos grandes áreas verdes que os circundam, como parte de nosso modelo de negócio na produção de agregados.
 
Jornal Indústria da Mineração: Sabemos que a mineração é uma atividade transitória e pontual e que existe uma grande quantidade de áreas utilizadas pelo setor que foram recuperadas. Como é realizado esse processo de recuperação? A evolução da tecnologia contribui nesse sentido?
 
A mineração que sustenta a indústria de pedra britada vive um grande paradoxo porque, ao tempo em que está assentada e é desenvolvida em grandes massas minerais – maciços de granito-gnaisse, derrames de basaltos, por exemplo – o fato de ter de estar junto aos centros consumidores e ser suscetível e vulnerável diante da expansão urbana, resulta na esterilização de jazidas, na abreviação da vida dos empreendimentos e, muitas vezes, na interrupção precoce da atividade de mineração. São Paulo foi nas últimas décadas um exemplo cabal dessa situação, com o fechamento de muitas unidades produtoras, que foram ou parcialmente recuperadas ou integradas, praticamente tal e qual, à cidade. Das áreas mais conhecidas temos casos de transformação da área minerada em espaços para finalidades culturais, ocupações por outros usos ou empreendimentos (“piscinão” em São Paulo, supermercado em São Vicente –SP, aterramento da cava e recuperação do terreno para outra tipo de ocupação, dentre outros). Entendemos que mais do que a evolução da tecnologia, o que é determinante na utilização da área é a existência de legislação – e o próprio convencimento do empreendedor – que visa conferir um outra destinação à área da mineração encerrada, integrando-a no contexto e cenário local de uso e ocupação econômica do solo. É fácil compreender que os empreendimentos com suas atividades já encerradas, localizados conforme já se discutiu, dentro ou na periferia de áreas urbanas, ocupam áreas que passaram a ter um grande valor. Temos exemplos, inclusive, de recuperação de parte de área de pedreira para utilização como centros de distribuição logística, que despertam muito interesse especialmente nos grandes centros urbanos. Ressalte-se, por fim, que os empreendimentos atualmente em operação já são projetados de forma que, no futuro e encerrada a mineração, devem estar moldados segundo uma configuração física que os tornem compatíveis e adequados à vocação local de uso e ocupação do solo.
 
Jornal Indústria da Mineração: Qual é o papel da Embu no Comitê de Mineração da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo?
 
As empresas não estão representadas institucionalmente no COMIN. O chamado Comitê da Cadeia Produtiva da Mineração foi constituído como um fórum de discussão setorial, dos diferentes segmentos do setor mineral paulista, para subsidiar ações de natureza legal e institucional de interesse da mineração. Nele fazem-se representar apenas os sindicatos paulistas da mineração e entidades diversas – de atuação estadual ou nacional, dentre estas o próprio IBRAM, que se faz presente por ocasião dos embates mais relevantes, como foi o caso das discussões relacionadas ao projeto do Marco Regulatório da Mineração. O setor de agregados, contudo, está representado pelo Sindipedras, Sindareia e ANEPAC e tem participado ativamente de todas as iniciativas do COMIN.
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