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Nos últimos dez anos o comércio exterior brasileiro foi rebocado pelo crescimento chinês, baseado em uma rápida urbanização e em pesados investimentos em infraestrutura.
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Esse estilo de crescimento gerou uma enorme demanda de commodities, especialmente de alimentos, minério e aço.
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Entre 2001 e 2010 a China construiu 7 milhões de residências por ano, para acomodar os trabalhadores em busca de ocupação nas cidades.
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Desde o surgimento da crise global, em 2008, as autoridades chinesas tentam mudar o padrão de crescimento econômico, deslocando a ênfase do investimento e da exportação para a criação de um mercado interno mais dinâmico.
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Para isso serão necessárias reformas estruturais e a grande missão do governo recém-instalado será levar adiante as mudanças ensaiadas nos últimos anos.
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Qualquer programa de reformas na segunda maior economia do mundo seria acompanhado com interesse – e até com ansiedade – nos demais países, especialmente naqueles mais dependentes do mercado chinês.
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A China tornou-se há alguns anos o principal destino das exportações brasileiras. Nada mais natural que o interesse brasileiro em relação aos rumos da economia chinesa e às opções políticas do novo governo instalado em Pequim.
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Uma dessas opções é reduzir o poder das estatais, até agora dominantes na indústria pesada, no setor de energia e nos serviços de larga escala. Nos últimos dez anos, os líderes do governo central deixaram claro seu pouco interesse em promover a abertura desses setores ao capital privado.
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Também por isso a mudança de governo é importante, segundo a avaliação de Arthur Kroeber, diretor da consultoria Gavekal Dragonomics, em Pequim, considerado um dos maiores especialistas em economia chinesa.
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Em entrevista ao Estado, Kroeber falou sobre a agenda chinesa de reformas, destacando a importância das mudanças liberalizantes e apontando as dificuldades políticas.
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O governo, segundo ele, poderá dinamizar a economia se deslocar recursos das estatais para o setor privado, mas para isso terá de enfrentar o poder da burocracia instalada nas gigantes do setor público.
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A oposição às reformas é grande e poderá dificultar a transição para uma economia mais baseada no consumo.
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Disso dependerá uma transição suave ou acidentada. A transição suave, segundo ele, é a hipótese mais provável. Em qualquer caso, a demanda chinesa por produtos básicos deverá cair e isso afetará a evolução dos preços.
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Mas o futuro do comércio exterior brasileiro, insiste Kroeber, dependerá essencialmente do Brasil e de sua capacidade de realizar uma transição para um modelo menos dependente da exportação de commodities.
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A atual dependência, poderia ter acrescentado o economista, resultou também de uma escolha do governo brasileiro, quando se acomodou a um modelo comercial cada vez mais dependente do apetite chinês por matérias-primas, como se esse apetite fosse inesgotável.
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A rejeição brasileira às negociações de livre-comércio com as potências desenvolvidas condenou a indústria nacional à exploração de mercados menos desenvolvidos, de onde a produção brasileira acabaria sendo deslocada pela concorrência da China e de outros países mais competitivos que o Brasil.
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A solução para a economia brasileira, segundo Kroeber, é aproveitar os bons preços das commodities, enquanto duram, e investir em produtividade.
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Nada muito novo, enfim, em relação às estratégias propostas há muito tempo, sem sucesso, por quem acompanha de perto o dia a dia da economia brasileira. Quanto a esse ponto, as opiniões de Kroeber apenas confirmam um fato óbvio.
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Mesmo do outro lado do mundo as fraquezas estruturais da economia brasileira são evidentes e o receituário pouco varia.
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É urgente investir na infraestrutura, na formação de mão de obra e em mais uma porção de itens essenciais para o aumento da produtividade e da competitividade.
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Tudo isso o governo sabe e vive repetindo. Mas, para começar, falta ao próprio governo elevar seus padrões de eficiência.
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Sem essa providência elementar, nenhum discurso, embora repetido, tornará o País mais competitivo.
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Fonte: Estado de São Paulo
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